Airborne Kingdom
A minha resolução para o ano passado era jogar mais jogos que queria mesmo jogar. Essa resolução passa muito por procurar Indies interessantes. Funcionou durante algum tempo até as obrigações se sobreporem à minha diversão. Quando vi as minhas notas do ano reparei que em Março tinha pedido este jogo e que mo enviariam. Fui ver ao email e realmente era verdade. Não me lembrava sequer do jogo, que acabou por sair em Dezembro! Por que o pedi em Março então? Não faço ideia, mas ainda bem que fui rever as minhas notas, porque Airborne Kingdom é uma daquelas pérolas que tenho imenso prazer em descobrir e jogar.
Há 5 anos joguei Banished, um city builder muito pacato e relaxante. Desde essa altura que tenho procurado um jogo que me traduza as mesmas sensações. Airborne Kingdom foi esse jogo. Sem ninguém a atacar-nos, sem termos de tomar decisões políticas, sem dilemas morais a comerem-me a cabeça. Aqui tudo é positivo… o que não me impediu de mesmo assim virar a cidade de pernas para o ar, provavelmente algo que eu nunca pensaria ser possível antes de jogar isto.
Agora convém contar a peculiaridade deste jogo. A nossa cidade é voadora. O Reino voador que quer conciliar todos os Reinos aliás, uma das condições de vitória é mesmo essa, aliarmo-nos aos 12 Reinos existentes. Ahh, então sempre há política… Nahh, nada disso. Todos os diferentes reinos se querem aliar connosco, embora haja umas tarefas menores que nos obriguem a fazer primeiro.
Entendam, a dificuldade deste jogo é mesmo conciliar todas as construções que vamos desbloqueando com o equilíbrio e propulsão da cidade e os recursos no mapa. Isto dito assim parece simples demais, e dá a ideia que o jogo é demasiado simples. Não é bem assim.
Embora as primeiras áreas do jogo nos ofereçam tudo em abundância, funcionando quase como um tutorial, com o avançar do jogo alguns recursos vão rareando, e tens de planear com antecedência consoante a área para onde vais. Para ser sincero, eu joguei o jogo à chonas, sempre à espera que me pregasse uma rasteira inesperada, mas em nenhum momento ele chegou ao pé de mim com uma pedra para me atirar. Desde que planeasse de forma antecipada, teria poucas surpresas. Isso foi uma constante, e desta vez encaixou como uma luva.
No fundo tens de conhecer o terreno, saber o que esperar e, acima de tudo, conhecer a tua cidade, saber estimar quanto tempo demora a ir do ponto A ao ponto B, ou melhor, do ponto A ao ponto B e de volta ao ponto A, porque o que chegou a acontecer foi eu falhar umas contitas. Mesmo nesse caso a penalização não foi grande, pois o mapa funciona quase como uma sandbox e se via que ia faltar algo num bioma, simplesmente voltava ao anterior e passava lá mais um bocado a acumular coisas.
Agora que falámos do mapa, falemos da cidade. Para a cidade voar precisa de elevação e propulsão. Conforme vais construindo mais coisas a cidade fica mais pesada, conforme vais andando no jogo dá jeito que a cidade voe mais rápido. Quando chegas ao limite de peso vais precisar de mais elevação, se queres andar mais rápido precisarás de mais propulsão. Aqui entra a jigajoga mais engraçada da construção da cidade. Tens que equilibrar o peso, os edifícios e a velocidade sem virar tudo, pois cada construção tem uma massa, massa essa que vai gradualmente desequilibrando a cidade. Há tanta coisa para desbloquear que ao início nem tens a noção de como a cidade vai acabar. Quando aprendi o jogo já joguei pelo seguro e fiz tudo simétrico, mesmo que construísse em excesso. Deu alguns problemas mas lá está… como joguei com miúfa acabei por ter margem para compensar tudo. Além de tudo isso as pessoas são esquisitinhas, não gostam de viver ao lado de determinadas construções, não querem que a cidade ande de banda como Miranda, têm desejos, … e temos que trabalhar para suprir todas essas necessidades. Inicialmente não planeamos com isso em mente e depois não temos espaço para acrescentar o que as pessoas querem. Manter as pessoas contentes também é fundamental dada a importância que cada trabalhador tem para a nossa cidade. São necessários para manter as fábricas a funcionar e ter um determinado número é requisito fundamental para acabar o jogo.
Com uma “skill tree” muito grande, as tuas escolhas prioritárias também influenciam a forma como jogarás o jogo até determinado ponto, embora haja uma altura em que é possível andar em velocidade de cruzeiro.
Espero que percebam que o jogo tem replay value. Ou fazem como eu e andam sempre a construir e destruir (ou mudar de local) ou vão cometer muitos erros na primeira vez que jogarem.
Há outra coisa que já devia ter mencionado, mas deixei para o fim. O jogo satisfaz todo o meu imaginário de construção indiana, com edifícios abobadados ao estilo do Taj Mahal, escrita em caracteres locais e pinturas claramente identificativas com o país. Parecia um filme de época. A minha análise anterior foi ao DLC do Gears 5, uma experiência AAA, no entanto o estúdio The Wandering Band conseguiu-me deslumbrar de igual modo, talvez até ainda mais que o The Coalition. Isto não é desprimor para o primeiro, mas não estava nada à espera de ficar embasbacado e enamorado por tudo o que via.
É muito difícil traduzir por palavras o quanto eu gostei deste jogo. Mesmo tendo abdicado conscientemente da fórmula tradicional dos city builders, Airborne Kingdom é um jogo desafiante e bastante criativo. Há muito que não me surpreendia tanto com um jogo e por tudo o que este oferece é, na minha opinião, uma experiência obrigatória para os fãs do género.
- Lançamento: 17 de Dezembro de 2020
- Plataformas: PC
- Desenvolvedor: The Wandering Band LLC
- Editora: The Wandering Band LLC
- Nota Pessoal: 8,5/10
- Cópia para análise gentilmente cedida por The Wandering Band LLC