Demon's Souls
Mais de uma década passou desde que o começo desta franchise que, decerta forma, não só revolucionou o género RPG, mas criou algo novo em volta destes títulos que muitas pessoas se referem a Souls-Like ou Soulsborne para a franchise como um todo. Lembro-me de estar na segunda metade da minha adolescência e jogar Demon’s Souls pela primeira vez, e as horas iniciais não foram uma boa experiência, maioritariamente porque a PS3 não era uma consola que tinha boa performance, e a minha inexperiência em RPGs mostrou-se de tal forma que deixei o jogo de parte várias vezes nesse ano. Naquela altura já conseguia ter um limite de paciência mais expandido e acabei por pegar de novo e consegui ir até ao fim. Dei continuação porque tinha bastante interesse naquele ambiente desconhecido e nas criaturas bizarras que ia encontrando ao longo da campanha. Era algo que jamais tinha visto, e nunca consegui entender o que se passava ali, as poucas cinematics que tinha eram com bosses, que também não davam muito contexto, estas incógnitas foram o que me levou a tentar descobrir mais e ir à procura de respostas, o mesmo aconteceu com o resto da franchise e é a razão principal de gostar tanto destes jogos.
Tomamos o controlo de uma personagem que foi enviada para o reino de Boletaria, onde uma entidade maligna foi convocada e lançou uma magia sobre o local chamada “Deep-Fog” (Nevoeiro Profundo) que trouxe demónios devoradores de almas. Somos encarregados de matar o Rei Allant para quebrar a magia e voltar a restaurar a normalidade, e se conhecem a franchise, conhecem o conceito que isto envolve sempre um ciclo de morte e ressurreição, em Demon’s Souls é por causa da magia negra, nos títulos Dark Souls é uma maldição.
Esta narrativa não é contada de forma tradicional, não existe alguém quem conte que se sucede, nem tão pouco as personagens que vamos encontrando ao longo do tempo, temos antes pequenas frases em itens que apenas dão uma ideia do que ocorreu, e para mim, isto há dez anos atrás era algo revolucionário, como se cria um conto e não o contar? Deixar fragmentos de história em dezenas de itens é de génio. Ainda existem jogadores que não gostam desta abordagem, e é compreensível, eu como me entusiasmo bastante nas histórias, faço questão de colecionar tudo e ler aqueles textos gigantescos só para conseguir digerir, compreender e questionar o que se passou naquele mundo, chamem-me fanático, mas eu adoro uma boa história.
Demon’s Souls é um remake sem mudanças drásticas, o que pode ser bom ou mau, dependendo do próprio jogo e respetivas mecânicas. Temos um exemplo de Resident Evil 2 que foi completamente refeito e adaptado para a geração atual, as mecânicas eram bastante antiquadas e inadequadas, e a decisão de acomodar o jogador sem denegrir o título original foi a mais correta. Neste caso, como o gameplay e mecânicas de Demon’s Souls foram sempre transferidos para os seus sucessores, a decisão de manter e apenas melhorar foi o melhor toque de pureza que a Bluepoint Games deu. O gameplay é jogado da mesma forma como o original, e todos os sistemas receberam quality of life upgrades conseguindo manter-se fiel ao original, os fãs de longa data irão ficar maravilhados ao ter esta nova experiência com o hardware da PS5.
Lembrar o mundo com aquele tema da era medieval foi uma viagem de nostalgia que voltou a despertar aquela curiosidade de explorar todos os cantos obscuros daquele mundo, especialmente bosses. Ficar chateado por ter morrido trinta ou cinquenta vezes para o mesmo ataque que posteriormente disse que nunca mais ía cair naquilo, mas que depois de os derrotar damos um suspiro de tranquilidade e paz, para depois voltar ás frustrações de não ter conseguido abrir um atalho depois de serpentear corredores ocupados com inimigos para tentar apanhar um item valioso e abrir a porta ao mesmo tempo, este jogo não perdoa e vai-vos fazer suar e regredir uma boa porção de tempo só porque foram imensamente gananciosos, lembrem-se que eu coleciono tudo, regressão podia ser o meu nome do meio.
Já não tinha a noção de o combate ser tão lento, somos oprimidos de tal forma que é necessária concentração total para conseguir bloquear e tentar ripostar no momento certo para não perder o progresso até aquele momento em caso de morte, isto é aplicável em monstros normais no mundo e batalhas com bosses.
A dificuldade de Demon’s Souls pode mostrar-se como algo bastante difícil de inicio, mas como em todos os títulos da franchise, é uma curva de aprendizagem e paciência, o objetivo principal será sempre manter a personagem com boas estatísticas para facilitar o combate e manter a progressão incremental de cada área, esta que poderá diferir entre jogadores mais e menos experientes, para uns poderá ser bastante fácil de entrar em novas áreas porque já têm conhecimento de como estes títulos funcionam, e para os novatos poderá tornar-se numa viagem frustrante à procura de um caminho correto para seguir.
Demon’s Souls não se tornou mais acessível neste remake, foi refeito para os fãs da franchise, mas que nunca tiveram oportunidade de jogar o título que criou e definiu um género, é para os fãs de longa data que jogaram no lançamento e depois caiu no esquecimento, também é para despertar aqueles jogadores com sede de desafio e que querem ver o espetáculo técnico na PS5. Bluepoint Games merece selo de aprovação com o nível de qualidade e performance ao trazer o melhor título da franchise Soulsborne.
- Lançamento: 12 de Novembro de 2020
- Plataformas: PS5
- Desenvolvedor: Bluepoint Games
- Editora: Sony Interactive Entertainment
- Nota Pessoal: 9/10
- Cópia para análise gentilmente cedida por Playstation Portugal
- Analisado na versão para PS5