Grounded

Escrito por

Gonçalo "Melgacius" Carvalho

Data de publicação

18 Agosto 2020 15:00

Tópicos

Com Grounded a Xbox não cometeu o mesmo erro que teve com Sea of Thieves. Grounded aparece exactamente no mesmo estado que o anterior, em esqueleto. Um esqueleto funcional, divertido e bem feito, mas mesmo assim um esqueleto. Afirmarem que está em Beta foi a estratégia correcta, de facto ainda há muito para fazer aqui. No entanto convém dizer que me tem impedido de jogar outros jogos, simplesmente não consigo parar de jogar este. Pensem só que disputou tempo de antena com o Fall Guys e acabou por ganhar. Estou rendido.

Esporadicamente menciono o meu vício em Rust. O meu defunto canal parou durante 7 meses quando encontrei o mundo de sobrevivência, mas os meus horários estranhos e a mudança constante das construções onde era especialista foram gradualmente desgastando o vício até que finalmente o venci. De tempos a tempos pico um jogo deste género, mas ainda não encontrei o tal. Pensei que fosse ser o Green Hell, mas não foi. Grounded parece ter tudo para ser o tal. Gostei do conceito desde que o vi numa apresentação da Xbox. Não foi um amor assolapado foi sim, como agora com a maioria dos jogos da Xbox, uma constatação que estava ali algo interessante e que até parecia divertido. Estava mesmo.

Queria fugir ao cliché de mencionar o Querida Encolhi os Miúdos, mas acaba por ser praticamente incontornável. Jogamos com uma de 4 crianças que foram encolhidas no meio duma experiência que só vamos descobrindo ao mesmo tempo que vamos encontrando cassetes espalhadas em diversos pontos do jogo. Interessante como os cientistas são sempre tão descuidados e deixam as coisas espalhadas por toda a parte…

O resto é sobrevivência textbook, o que difere é mesmo a skin do jogo que jogas e a maneira como é implementada. Estás no jardim de tua casa, aparentemente sem que ninguém se aperceba que desapareceste, e após uma meia hora de tutorial que funciona como o início da história estás por tua conta. Bem, tua ou também de mais 3 amigos, porque é possível jogares em modo cooperativo online.

Tens de procurar comida e bebida, construir a tua base, explorar, fabricar armas, armaduras e ferramentas e, acima de tudo, lutar com uma gama de insectos que nos parecem inofensivos… até sermos da altura deles.

O jogo está dividido em áreas, cada uma delas com uma música. A música não tem nada de especial, apenas menciono isto porque uma delas me faz lembrar, e muito, a do Outer Worlds. Achei giro e daí ter mencionado. Sonoramente ainda tem uns glitches aqui e ali, com alguns sons a não aparecerem com alguns dos personagens.

Após lhe ganhares o jeito torna-se relativamente simples chegares ao endgame, se é que posso dizer que isso existe, mas até aprenderes o “bailado” necessário para derrotares os diversos insectos vai achar que praticamente tudo te mata e a cada dois passos vais olhar para o lado a ver se algum pedaço de relva está a abanar. Nessa fase não interessa a razão, se abanar tu foges.

Felizmente o jogo não perdoa e obriga-te a aprender. Se deixas comida na base as formigas vão destruí-la para a comer, se uma aranha lobo te vê não vai ser um bocadinho de relva que te vai salvar, nem és rápido o suficiente para fugir. Ou lutas, ou morres. E morres. Muitas vezes. Até que começas a dar luta. Primeiro começas a derrotar as formigas soldado. São muitas, aprendes a bloquear os seus golpes. Depois passas às joaninhas. São meiguinhas, até dá pena, mas dá-te imenso jeito as armaduras que podes fazer com as suas partes. Tentas os Bombardier (cuja tradução para português desconheço), morres algumas vezes e percebes que até é mais fácil derrotar a aranha tecedeira. Voltas ao Bombardier porque agora estás muito mais confiante com os bloqueios depois de os treinares múltiplas vezes com as aranhas, e acabas nos percevejos. Nesta fase já tens praticamente tudo o que o jogo oferece, mas falta a tua arqui inimiga, a tua Némesis, a aranha lobo. Sim, essa sacana que aparece vinda do nada. Quer dizer, aparecia vinda do nada. Não és assim tão nabo, já sabes onde elas fazem spawn e sabes mais ou menos por onde andam. Também já reparaste que não são nada como as aranhas tecedeiras, se apanham o teu cheiro são como um cão de caça, não descansam enquanto não te encontrarem ou enquanto não fores embora. Estás farto que elas saltem detrás duma pedra ou duma raiz e te matem num só golpe. Aconteceu vezes demais, não pode ser. Afinal já consegues bloquear todos os outros ataques, porque tens medo desta aranha? Só porque ela salta praticamente dum lado ao outro do mapa? Só porque precida do dobro dos golpes para morrer? Só porque mesmo que bloqueies o golpe, desde que não seja de forma perfeita ela te envenena? Não, nunca mais, vais enfrentá-la olhos nos olhos. E morres na mesma… mas nem sempre. Isso é positivo. Se calhar o melhor é aproveitar algumas das maneiras meio cheese que o jogo ainda tem que tas permitem matá-las sem grande risco, como encontrar um locar onde ela se mantenha focada em ti mas não te consiga tocar e matá-la com flechas, ou atraí-la para o meio dum grupo de simpáticas joaninhas que simplesmente irão acabar com ela. Não me esqueci das larvas, no meu jogo elas apenas não queriam aparecer, mas depois das encontrar começaram a aparecer em todo o lado, e não apenas onde deveriam estar. Mas essas são fáceis, já as apanhei em endgame, apanham-nos em grupos de 4 mas são fáceis de matar, não podes é ficar encurralado.

Tenho sempre novos projectos no jogo. Isso é estranho porque acho que já vi tudo o que tem para me mostrar. Entrei em todos os recantos no modo criativo, apanhei todas as grutas, com a ajuda do Youtube vi as coisas escondidas que provavelmente me iriam escapar. No entanto tenho sempre uma nova ideia. O jogo não me penaliza por morrer, simplesmente corremos o risco das formigas comerem a comida que temos no inventário, de resto fica lá tudo guardado. Já tentei criar fortalezas que impedissem as aranhas lobo de sair dos locais onde fazem spawn, já construí bases em locais inacessíveis, já construí pontes aéreas entre os pontos de interesse do mapa, pontes essas que me permitem andar sem qualquer risco por todo o lado, já aproveitei glitches que certamente sofrerão patch no futuro, já joguei com malta do Brasil durante os streams… isto é algo de transcendente? Não, nada. Então qual é a grande coisa? A grande coisa é que no meio de toda a diversão que o jogo já me ofereceu ainda mal começou a ser introduzido conteúdo. Tal como Sea of Thieves este jogo parece um embrião do que potencialmente pode vir a ser, e provavelmente ainda vai melhorar bastante até ser lançado. Para mim da maneira que está já claramente que vale a pena.

Ora, está isento de bugs? Fugindo à piadola, não. Os que mais me irritam têm a ver com a detecção de colisão. Os insectos facilmente passam pelas paredes das estruturas e algumas das ervas, especialmente os dentes de leão, não gostam muito de perceber a física do terreno e é comum vê-los a embater em metade do mapa antes de pararem. Geralmente não há grande problema, mas há alturas em que ficam presos numa área e o barulho do movimento não cessa. Se for perto da tua base e o conseguires ouvir é bastante irritante. A bicharada também gosta de ficar presa no ambiente, mas usualmente até uso isso a meu favor.

Em jeito de conclusão, acho que o jogo está muito bem feito e tem muitas pernas para andar (lá está ele a ser batanete). O que faço com a Hyped muitas vezes tira-me a oportunidade de passar mais tempo a fazer o que gosto, provavelmente irei deixar Grounded não porque quero, mas porque o tempo não estica e tenho mais jogos para analisar. Está no Game Pass. Não percam a oportunidade de, pelo menos, experimentarem. Recomendado!

  • Lançamento: 28 de Julho de 2020 (Early Access)
  • Plataformas: PC/Xbox One
  • Desenvolvedor: Obsidian Entertainment
  • Editora: Xbox Game Studios
  • Analisado na versão para PC