Super Meat Boy Forever

Escrito por

Ricardo "Jaclops" Martins

Data de publicação

14 Fevereiro 2021 12:28

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Há uns valentes anos atrás, quando ainda estudava, tinha uma aula de informática na qual conseguia despachar os trabalhos relativamente rápido, o que me deixava com tempo de sobra. A recomendação da professora? Utilizar esse tempo para rever o trabalho feito. O que realmente acontecia? Carnificina!

Tal foi o impacto que a primeira iteração de Super Meat Boy teve em mim que só pensava quando iria conseguir ter hipótese de fazer mais umas tentativas nos seus níveis imperdoáveis e sangrentos. Dez anos depois eis que nos chega a tão esperada sequela. E que boa forma de dar continuação a um legado que espero que nos continue a fornecer carne picada por muitos mais anos. Já estava com fome.

No jogo onde tudo começou a nossa missão era salvar a namorada de Meat Boy, Bandage Girl, que havia sido raptada pelo Dr. Fetus levando-nos numa viagem cheia de serras prontas a desfazerem-nos em pedacinhos ao menor toque. Como é comum, acabamos com um final feliz em que conseguimos salvar a donzela em perigo.

Os anos passaram e nasce Nugget, o fruto do amor deste casal. Já devem perceber qual é o seguimento da história para este segundo jogo, certo? Pois claro que o Dr. Fetus não se contentou em tentar raptar apenas uma das raparigas na vida de Meat Boy e assim volta para raptar a sua pequena filha. Realmente a história nunca foi especialmente interessante ou inovadora, no entanto é tão bem contada com pequenos cinemáticos cómicos que me deixam sempre com um sorriso na cara que não preciso que vá mais longe. E vamos ser sinceros, o que procuramos em Super Meat Boy é platforming incrivelmente preciso e masoquista que até dá dores de cabeça.

Jogo instalado. Comando ligado. Volume no máximo. E claro, sou recebido no main menu com uma banda sonora explosiva tal como estava à espera. Aaah... as saudades que tinha disto!

A primeira grande diferença aparente entre os dois jogos é logo no primeiro cinemático no qual nos apercebemos que houve uma gigante evolução no estilo gráfico. É bastante claro que a Team Meat quis pegar nos gráficos pouco pretensiosos do primeiro e trazê-los para os dias de hoje dando-nos agora uma animação bastante polida e vibrante. Ainda bem que o fizeram porque o resultado está realmente bonito e dá ainda mais vida aos personagens que já conhecemos.

Depois do cinemático de introdução à premissa somos largados no primeiro nível. Mal o cronómetro começa a contar carrego no botão para andar para a direita e lá vou eu. Ao chegar ao primeiro salto quero preparar-me para o fazer e peço ao boneco para parar de andar, no entanto ele simplesmente continua a correr e espeta-se. Não conseguia perceber porque é que o input de correr estava sempre a ser acionado. Fiquei louco a tentar perceber porque é que o meu comando estava a fazer isto até me aperceber que simplesmente o paradigma tinha mudado. Super Meat Boy Forever é agora um auto-runner. Inicialmente fez-me muita confusão não ter controlo sobre a movimentação do personagem para fazer as preparações necessárias para os saltos mais difíceis, mas depois de ser esquartejado umas quantas vezes já estava confortável o suficiente para conseguir fazer o necessário.

Sendo um auto-runner acabamos apenas com dois botões para memorizar: “B” para saltar e caso se carregue uma segunda vez no ar damos um soco que funciona como dash; e seta para baixo para deslizar no chão para passar por baixo de coisas. Apesar de não termos de decorar muitos botões continuamos com imenso controlo sobre o personagem, pois todos são sensíveis ao tempo que os carregamos fazendo-nos saltar mais alto ou mais baixo, fazer um dash mais comprido ou apenas um pequeno soco. Acho fabuloso como é que se consegue fazer os controlos de um dos platformers mais precisos que conheço com apenas dois botões. É de louvar.

Para que um jogo com controlos tão simples se mantenha interessante e desafiante durante toda a sua duração é necessário criar mecânicas que se mesclem com a nossa movimentação. Assim apresentam-nos power-ups que utilizamos para alterar a direcção na qual nos movimentamos a meio de um salto, para andarmos no tecto em vez de no chão, super dash, dash com teletransportação incorporada, entre muitos mais divertidos e difíceis de usar. Pode parecer que algo com conceitos tão simples deverá ser fácil de dominar. É aí que se enganam… Super Meat Boy Forever não perdoa! Estamos constantemente a ter que tomar pequenas decisões em frações de segundos, o que se torna realmente difícil quando não podemos sequer parar de correr.

Já no jogo original a Team Meat tinha provado que sabem o que fazem em termos de level design, no entanto, acho que é neste segundo que consolidaram a prova disso mesmo. Os níveis são incrivelmente criativos, com inimigos que nos ameaçam de mil e uma maneiras diferentes, saltos que parecem impossíveis mas que só precisamos de acreditar um bocado no quão bem desenhados estão os níveis e voltas e reviravoltas que mais fazem lembrar uma montanha russa maluca um bocado ao estilo de Sonic The Hedgehog. Infelizmente, por vezes o casamento da apresentação de novas mecânicas sem qualquer explicação e da rapidez com que temos de reagir ao que nos é lançado à cara velozmente não está bem conseguido, levando a alguns momentos de frustração e repetição do mesmo segmento por não compreender sequer o que querem que nos façamos. Nada por aí além mas a verdade é que corta um bocado a energia com que se está a jogar.

Os bosses neste jogo funcionam sempre no mesmo modelo de platformer auto-runner em que temos que ir cumprindo certos requisitos como partir barreiras para podermos bater no inimigo ou até utilizar inimigos mais pequenos e atirá-los contra o gigante com que combatemos. Todos tinham métodos de abordar diferentes, divertidos e muito criativos. Esperem até chegarem ao último boss da história e vão ver a complexidade que é sequer conseguir perceber como é que se atinge o inimigo. Levei umas boas duas horas para conseguir compreender e executar os inputs necessários para o derrotar. Deu para soar.

Quem tenha interesse em levar o desafio um bocado mais longe existem versões alternativas de todos os níveis, Dark World Levels, que testam a determinação e o à vontade que se tem com as mecânicas do jogo de quem se atreva a jogá-los. Mas como estes níveis não são para os fraquinhos de coração, antes de termos acesso a eles ainda nos obrigam a provar que realmente estamos ao nível do desafio ao termos de conseguir tempos recorde nos níveis base acabando-os com nota A+. Acreditem que mesmo nos níveis base não é nada fácil atingir esse feito. Apesar de só ter conseguido fazê-lo em alguns níveis espalhados ainda quero voltar ao jogo para fazer todos os Dark World Levels, mas por agora tenho que descansar os pulgares que já estão a doridos.

Super Meat Boy Forever é a prova que um jogo não precisa de ter quinhentas mecânicas difíceis de compreender e memorizar para que ele seja desafiante e por vezes nos faça querer atirar o comando pela janela fora. Por vezes menos é mais. A Team Meat está de parabéns pela evolução da franquia em praticamente todos os aspectos possíveis de mencionar e nota-se acima de tudo um esforço grande para que se sinta que o níveis são únicos e divertidos à sua maneira. Se gostas de um bom platformer desafiante e rápido este deve ser para ti também. Mal posso esperar por voltar a ser espicaçado mais um bocado neste fabuloso jogo.

 

  • Lançamento: 23 de Dezembro de 2020
  • Plataformas: PC/Nintendo Switch/PlayStation 4/Xbox One/Mac/Android/iOS
  • Desenvolvedor: Team Meat
  • Editora: Team Meat
  • Nota Pessoal: 7.5/10
  • Analisado na versão para PC
  • Agradecimento especial à Team Meat por ceder uma cópia para análise